O início de qualquer intenção, ao contrário do que muitos dizem, não está no prognóstico do seu efeito prático. Poucos se autorizam o início de qualquer coisa sem que haja previsão, raciocínio ou qualquer coisa da ordem do ilustrável. Esse jeito de encadear o mundo cansa e, a meu ver, nos retira um universo de possibilidades inventiva que só a livre distribuição das incertezas poderia disponibilizar.
Nas horas vagas, ao invés de parar, se acelera um pouco mais o pensamento, já que é necessário reordenar a angústia do que não está previamente posto. Sem listar, a maioria é nada. Com as listas, o alívio de não precisar dedicar-se a si. É estranho, mas tende a ser assim.
Quem se autoriza a desbravar o que não está colocado precisa de uma dose extra de coragem, pois é audacioso aceitar a própria responsabilidade perante o desconhecido. Arrisco dizer que a paralisia frente ao novo resida justamente na nossa falta de prática com o erro – e isso não tem a ver com não errar, mas com treinar a frustração.
É que viver em uma era onde se busca uma falsa perfeição é desgastante e contraintuitivo, já que mentiroso. Tem menos a ver com o que se valoriza e mais com a profundidade de seus aspectos. Em outras palavras, sempre acreditei que as crenças desenvolvidas são sempre razoáveis à medida que ressoam dentro da gente. No entanto, quando são mera fórmula posta em vitrine, não podem ser consideradas dignas de respeito. Se as aparências e os estilos de vida grosseiramente defendidos nas telas contassem com alguma profundidade e perspectiva de crescimento, estaria tudo certo. Mas não é assim que funcionam.
Na prática, quem se autoriza viver uma vida com mais intervalos para a espontaneidade do desconhecido que habita todos nós provavelmente consegue acessar ambientes menos óbvios do mundo. Coisas do coletivo e da individualidade que, ainda que não escondidas de ninguém, ficam em cantos deliberadamente negados pelos olhos alheios. Um submerso que se escancara a todos, mas que só é visto por quem, não sem algum desconforto, se autoriza. Se autorize.
Um cheiro.
Thiane Ávila.






