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Fora do tempo

Há coisas que não passam com o tempo. Os arranjos devastados ou mesmo aqueles que seguem erguidos não têm necessariamente seus limites definidos, mas há quem diga que tão logo deixam de ser vistos, não existem mais. Tratar a vida como uma sequência de atividades que ora estão iluminadas pela importância ora estão apagadas pelo desuso ou pelo desinteresse me parece um jeito muito pobre de atribuir sentido às coisas.

É preciso falar daquilo que não passa, do resto que sempre se mantém presente. Qualquer artifício de liquidar as ocasiões é uma tentativa frustrada de fuga ao que não passa. Temos uma engrenagem psíquica altamente sofisticada, que dá conta de funcionar de maneira dinâmica, distribuindo energias, estabelecendo limites e orquestrando censuras. Nosso corpo inteligente dá conta de definir o lugar dos versos e dos vazios, criando condições mínimas para que possamos habitar quem somos, ainda que provisória e incompletamente.

Minha teoria sobre os acontecimentos eternos nada mais é do que a recusa em aceitar que algo, em algum momento, possa deixar de existir. Não dá para emprestarmos vivências a ninguém, assim como é impossível retirá-las de nós mesmos. Meus olhos são um produto do que vejo, realizando, sem cessar, a função de perceber as nuances enquadradas daquilo que está à minha frente. É impossível ter certeza de que esse padrão se repete nos outros, mas, por analogia, nos convencemos. E isso precisa ser suficiente.

Portanto, fora do tempo, há uma oportunidade revolucionária de tirar o fôlego sem que haja pressa, reconfigurando a passagem dos eventos como se estivessem ocorrendo sempre pela primeira vez. Falar do ineditismo que se repete é, quem sabe, um jeito interessante de desviar do tédio e trazer alguma coisa de genuína à grande massa que aprendeu que tudo deve corresponder a algum tipo de produtividade.

Dispensar motivos é um bom começo. Ainda que não possamos experimentar o mundo sem que apliquemos nele nossos próprios filtros, é possível provocar sobredeterminações e cataclismos. Mesmo que não tenhamos chance de esvaziar por completo o tempo, a iniciativa de se retirar, por alguns instantes, de sua convenção é uma oportunidade imperdível de vivenciar novos circuitos criativos. O agora está sempre começando, e isso precisa ser incrível.

Um cheiro.

Thiane Ávila.

Thiane Ávila

Escritora

Thiane Ávila

Escritora

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