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O que você espera?

Algo na arte nos mobiliza em relação ao absurdo e aos vazios. É como se o seu mecanismo de funcionamento subvertesse tanto a ordem dos dias que, sem perceber, é preciso que manifestemos os avessos. Munidos de qualquer coisa que escape às percepções distraídas, somos movidos pelas possibilidades e pelos seus contornos mal formados. Tenho para mim que, a rigor, traçar um objetivo para a inventividade trai a sua manifestação – mas que fique claro que isso não significa que não haja muito trabalho no desmonte.

Talvez por desbravar tantos terrenos diferentes na vida, hoje eu me entenda como alguém a serviço da inquietação. Já entendi que não é possível traçar rotas sem desvios, então fui aprendendo a me divertir com os imprevistos. Se eu fosse me abraçar sempre em minhas obsessões, sabe-se lá em que escuridão tediosa eu estaria agora. Me pergunto, então, o que de fato esperamos do que fazemos e do que deixamos de fazer. Mais do que isso: até que ponto responder essa pergunta é interessante para os próximos passos?

Gosto de me aventurar na falta de pretensão de alguns pensadores que, ainda que empenhados em fazer-nos refletir sobre a vida e seus descompassos, estão mais a serviço da promoção dos vazios que nos preenchem. Ou pelo menos é o que extraio deles. No fundo, quero convocar os pensamentos alheios a uma tentativa deliberada e cotidiana de colocar-se fora de si e das expectativas, buscando, nem que seja por míseros instantes, ocupar alguma possibilidade fora do eixo. Deslocar-se a lugares racionalmente impossíveis ou então incompatíveis com a realidade grosseiramente palpável do mundo. Já estamos quase sempre inseridos nela. O que custa mover-se para variar um pouco?

A quem ainda se interessa por ler alguma coisa diferente dos seus interesses performáticos, acredito que esse convite possa interessar. Vamos todos, em trilha, perseguindo o que não existe em nossas existências corriqueiras; então, mobilizar o que não se espera pode ser um bom exercício de descoberta de algo diferente. Mais do que isso, pode ser uma atividade surpreendentemente vazia de significados e de destinos, o que, se você conseguir conquistar, seria o mais incrível dos resultados. Boa sorte!

Thiane Ávila

Escritora

Thiane Ávila

Escritora

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