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O que pulsa

É fácil distrair-se em meio a tantos estímulos e falsas amostragens de prazer. Mais fácil ainda é liquidar-se em efemeridades que carregam promessas de eterno, mascarando a falta com roupagens aparentemente satisfatórias de algo que, em essência, está vazio. O tempo correndo não é um aliado no momento de treinarmos esse tipo de percepção. O sensível fica escondido nas brechas do tédio – acho que desaprendemos a contemplá-lo.

Não há razão para preocupar-se com o depois. Mentira. As fórmulas abastadas de conselhos autossuficientes e utópicos também não ajudam nosso psiquismo a desvencilhar-se um pouco das amarras da produtividade. Não acredito mais que a melhor estratégia seja nos convencermos de que é preciso relaxar mais, mas sim algo que esteja mais inclinado a uma busca verdadeira dos argumentos que retomam a pulsação em nós. Em outras palavras, deixar à mostra uma lista de aspectos capazes de servirem como ponte entre nós e nós mesmos.

Dentro das narrativas, há contingências e planos. Há também planos contingenciais e um pouco de frustração frente ao que gostaríamos que fosse, mas não foi. No entanto, isso não é mau, pois pulsa. Fazer sentir é o fenômeno sublime da vitalidade, das vontades que correm o constante perigo de morrerem afogadas.

Talvez ajude lembrar que somos bichos insatisfeitos, e essa prerrogativa não está em discussão. O abismo criado entre o que parte de nós e o que nos convencem a desejar é que lateja em sua emergência de cuidado. Vamos tropeçando sem proteção em meio a uma lama que não permite identificar qualquer batimento honesto do peito, já que tudo o que vem de dentro vai sendo soterrado pelos disfarces das urgências banais. Dos problemas que são meras ocasiões sem peso para virarem registro.

Como sempre, a mera constatação do caos não é suficiente para abrandá-lo, mas sinto que o lembrete de trazê-lo ao corpo para senti-lo resolve pelo menos a parte do esquecimento. E de tanto constatar os lugares que pulsam em nós, não tenho dúvidas de que, por breves instantes, nos aproximamos dos bastidores das máscaras e dos disfarces. Não raras as vezes, afinal, somos nós mesmos os escultores das cortinas colocadas em frente à nossa face cuja função é entregar apenas sombras bem delineadas do que se espera que sejamos.

Thiane Ávila

Escritora

Thiane Ávila

Escritora

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