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Cheiro de casa

Naquilo que nossa história tem de mais bonito, as curvas. No amontoado de inexatidão que nos atravessa, tendo a notar sempre os rabiscos despretensiosos das surpresas que engrandecem, dos olhares que acalmam e que fazem vista profunda em nós. De vez em quando, então, é bom espiar as marcas deixadas no chão pelos nossos próprios pés, verificando os cantos de felicidade e de tristeza, pincéis responsáveis por quem passamos a ser todos os dias.

Em dias de visita à infância, gosto de sentir cheiros conhecidos, acender incensos de massala, abrir livros velhos e ouvir samba. Esse combo de estímulos me remete a uma origem que não deixa esquecer a importância dos sonhos e, sobretudo, a grandeza de cada pequeno passo que aproxima o corpo e a alma deles, sem nunca distanciar o valor histórico de cada transformação necessária.

Nesse momento, escrevo da terra onde nasci, com o coração transbordando de alegria e saudade. Meus olhos não se cansam de vigiar os cantos mais familiares daqueles que amo e de percorrer as texturas que serviram de contorno a cada escolha feita durante a vida. Sentir as nuances das dúvidas e das certezas nos ajuda a continuar acreditando naquilo que nos move todos os dias.

É por essas e outras que insisto em lembrar que os registros que criamos e deixamos são uma efervescência inquietante, que mistura o novo e o velho, que permite a ressignificação inclusive do que foi eternizado. Com essa permissão ao novo, aquilo que é passado terá sempre um lugar amoroso dentro de nós, mesmo que com novos sentidos. Pessoas, lugares, momentos: tudo permanece intocável no que diz respeito à sua participação em nossa história, mas não é preciso que sejam engessados em um capítulo endurecido.

Nessa entoada, que seja possível o despertar diário das sutilezas em nós. As sombras, os intervalos, os recomeços, os resgates. Todos os embalos do que move e todas as rotinas do que não permanece sempre cabem em um abraço. Assim, que sigamos colecionando novas peças para antigas histórias e novas histórias que vão exigindo novos formatos e tamanhos para suas peças. No fundo, somos sempre movimento. Por isso, que as coisas permaneçam em nós como ondas capazes de trazer paz e agito a cada nova versão que escolhamos assumir.

Thiane Ávila

Escritora

Thiane Ávila

Escritora

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